O vídeo do Deputado Nikolas Ferreira sobre a proposta do governo de monitorar as transações via Pix gerou polêmica e foi decisivo para que o Planalto revogasse a medida.
Embora o vídeo contenha exageros típicos da política, a crítica é válida: a medida afeta principalmente a classe média baixa. O governo, ao tentar aumentar a arrecadação com maior fiscalização sobre transações digitais, pode acabar penalizando quem já sofre com o custo de vida elevado.
O ministro Fernando Haddad esclareceu que a medida não visava taxar o Pix diretamente, mas sim controlar a sonegação. No entanto, a sensação de que a carga tributária recai sobre quem menos pode pagar é palpável. Nikolas destacou que trabalhadores informais, como feirantes e motoristas de Uber, seriam os maiores alvos dessa fiscalização.
Além disso, o deputado levantou uma comparação com os gastos do governo, como os cartões corporativos, refletindo a insatisfação popular com o uso de recursos públicos, em especial os gastos feitos pela Primeira Dama Janja. A classe média baixa desconfia da cobrança de novos impostos quando os serviços públicos — como saúde, educação e segurança — estão aquém das necessidades.
O cerne da questão não está apenas no aumento da carga tributária, mas na percepção de que o governo optou por não confrontar aqueles que, de alguma forma, já ocupam um espaço confortável, como juízes, desembargadores e ministros de tribunais superiores, que vivem com uma margem bem acima do teto constitucional. Também preferiu não se meter com os generais, que desfrutam de algumas regalias negadas aos demais servidores. E, claro, decidiu não mexer com os setores do Mercado Financeiro que, ao longo dos anos, conquistaram subsídios generosos durante os governos de Dilma, Temer e Bolsonaro – subsídios esses que continuam intactos até hoje, agora sob a batuta de Lula. Esses são os grupos que, com sua voz potente no Congresso, sabem exatamente como defender seus próprios interesses. Curiosamente, Nikolas não aborda os deputados, que controlam bilhões em emendas parlamentares, algo que o governo também escolheu não enfrentar.
Portanto, a crítica de Nikolas, embora exagerada, aponta para uma realidade importante: o governo escolheu enfrentar o desafio de equilibrar as contas penalizando os mais vulneráveis. Governar é sempre uma escolha difícil, e o verdadeiro dilema é decidir a qual “senhor” servir — se aos ricos ou aos pobres. A insatisfação do povo brasileiro vem da sensação de que, em tempos de crise, são os mais pobres que pagam o preço.
No final, o governo suspendeu o monitoramento do pix e alegou que a sua comunicação falhou na forma como foi propagada a medida. No entanto, não há como comunicar isso de um jeito que deixe as pessoas satisfeitas. O governo fez escolhas, escolheu beneficiar uns e passar a conta para outros. Pois é, agora que aguente o tranco. Quem disse que governar é fácil?
Por Kelson Albquerque, Advogado