Na noite da última quinta-feira (3/4), em Fortaleza, Ciro Gomes (PDT) participou de um encontro discreto com cerca de 20 empresários cearenses, promovido pela Tricorp Consultoria Corporativa, da qual o executivo Geraldo Luciano é sócio. O ambiente escolhido — a varanda do 15º andar do BS Design — foi tão silencioso quanto atento.
Sem microfone ou exaltação, Ciro falou por quase duas horas com discurso técnico, tom calmo e recados políticos.
O tom:
Comedido nos gestos e afiado no conteúdo, Ciro concentrou suas críticas na condução da economia — mirando tanto Lula quanto Bolsonaro. Fez alertas fiscais, apontou distorções no papel do Banco Central e previu tensões futuras:
“O Brasil vai gastar R$ 1,1 trilhão só com o serviço da dívida neste ano.”
Economia no centro do discurso
A crítica:
Ciro atacou a lógica que sustenta o uso prolongado da Selic como solução para pressões inflacionárias causadas por fatores fora do controle monetário:
“Estão jogando na conta da Selic responsabilidades que não cabem à política monetária. Energia, escola, gasolina? Nada disso se resolve com juro.”
A provocação de um empresário:
Um dos presentes compartilhou um cálculo feito com base em IA: o juro real atual seria 22 vezes maior do que o praticado no fim do governo Bolsonaro.
Ciro respondeu com ironia: “Confie, mas desconfie da IA.”
O bastidor que repercutiu
Ao fim da fala, Geraldo Luciano entregou a Ciro um celular com uma chamada em andamento. Do outro lado da linha estava Pablo Fernandes, marqueteiro do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), e da campanha de André Fernandes (PL) à prefeitura de Fortaleza.
A conversa foi breve, informal — mas politicamente simbólica.
Por que importa:
Geraldo Luciano é um notório articulador da direita no Ceará. Já presidiu o partido Novo e atuou ativamente na campanha de André Fernandes.
Ver Ciro, um histórico nome da esquerda, ser colocado em linha com o marqueteiro de Tarcísio, num evento fechado promovido por Geraldo, chama a atenção do meio político.
Aspas que marcaram:
- “Não é minha intenção ser candidato à Presidência.”
- “Bolsonaro será condenado até o fim do ano.”
- “Tarcísio é bem avaliado, mas ainda preso ao sistema.”
No Ceará: silêncio, insinuação e veto velado
Ciro foi direto quando perguntado sobre a possível candidatura de Mano Júnior ao Senado pelo PDT: “Ouvi falar nisso.”
A reação entre os empresários — sorrisos contidos, olhares trocados — foi mais eloquente que a fala. O fato é que o Ceará praticamente passou ao largo da conversa.
Tradução: Na conversa, Ciro não fez aceno formal à direita, mas o ambiente, os interlocutores e a agenda levantam hipóteses.
A movimentação coordenada por Geraldo Luciano, o diálogo com o entorno de Tarcísio e a ausência de vínculos com a esquerda no encontro mostram que Ciro — ainda que sem projeto eleitoral claro — segue ativo e reposicionando-se no xadrez político de 2026.
Por Fábio Campos, no Focus Poder