Meio de renda é antigo no município e, proporciona economia para os usuários em relação a outros meios de transporte. Construção de uma ponte no local gera preocupação dos canoeiros quanto à procura das pessoas por seu ofício
Tradição em Sobral, os canoeiros do Rio Acaraú, que atravessam todos os dias dezenas de pessoas entre a margem direita no Bairro Dom Expedito até a margem esquerda, ou seja, de um lado da cidade ao outro, fazem desse ofício, um meio de deslocamento para população e, atividade de renda para sustento de suas famílias. Atualmente, seis canoeiros revezam entre os turnos da manhã, tarde e começo da noite, e proporcionam economia para a população em relação ao preço de outros meios de transporte.
De acordo com Edimar, 49, desde novo que ele trabalha fazendo a locomoção de pessoas na canoa. Durante o dia, inúmeras pessoas utilizam seus serviços: donas de casa, trabalhadores em geral, estudantes, e até mesmo turistas. “É do dinheiro conseguido aqui que nós compramos a mistura da semana, o feijão, e no final do mês pagamos água e luz”, revela ele que trabalha durante todos os dias da semana.
O horário de funcionamento diário das canoas é de 6h às 19h, exceto aos sábados que funciona até 12h, e aos domingos até 9h. Com esse serviço, a população chega mais rápido ao seu destino, que em grande maioria é o centro da cidade, e economiza dinheiro em comparação com outros meios de transporte. De acordo com Edimar, a taxa mínima é de R$0,50, podendo chegar a R$1,00 no período das férias, que é onde o fluxo, principalmente de estudantes, diminui.
Preocupação
Com a notícia de que o local ganhará uma ponte estaiada (um tipo de ponte suspensa por cabos constituída de um ou mais mastros, de onde partem cabos de sustentação para os tabuleiros da ponte), os canoeiros mostraram-se preocupados com o futuro da renda que conseguem contribuindo com a mobilidade de moradores do bairro Dom Expedito para o centro. “Antes, no começo, eram 15 canoas, hoje só são duas. É um trabalho que em grande parte vem passando de pai para filho. Nós sustentamos nossa família com essa renda, ficamos tristes porque ninguém ainda veio falar com a gente, mas pretendemos continuar com nosso serviço na água, sendo assim ou com pesca. Não é que somos contra a ponte, ela beneficia a população, alguns têm até medo e rezo para investirem em segurança também, mas queríamos saber o que vai ser de nós”, enfatiza outro canoeiro.
Para o centro de canoa!
A dona de casa e moradora do bairro Dom Expedito, Patrícia Lira, 30, utiliza os serviços dos canoeiros toda vez que precisa resolver algo no centro da cidade: “É super mais perto. No lugar de pegar a ponte, venho na canoa. Quando atravessa já está no centro e economiza mais. Você não precisa pagar uma moto ou carro, só pegar a canoa e pronto. Eles cobram R$0,50, mas tem gente que quando pode dar mais”, ressalta ela. A ponte seria legal, mas na visão de Patrícia “acabaria tirando eles: os que trabalham na canoa dependem desse trocadinho para sobreviver”, enfatiza.
Trajeto diário
O estudante Natanael Silveira Sousa, 30, mora no bairro Dom Expedito e lembra que desde a infância faz o trajeto diário na canoa: “É algo mais viável de vir para o centro. Se torna mais rápido, mais prático do que dar o balão para chegar. Desde pequeno sou acostumado a fazer esse trajeto, conheço todos os canoeiros. A ponte vai ajudar bastante, facilitar no inverno no período das enchentes, mas por outro lado vai ser triste porque não sabemos se as canoas irão continuar ou não, querendo ou não é o ganha pão deles”, afirma Natanael.
Realmente é preocupante no que diz respeito ao meio de vida dos canoeiros e suas familias. Mas por outro lado a população que trabalha, estuda, e outras atividades no centro, precisa dispor de dinheiro sempre para pagar as idas e vindas diárias.
Na minha adolescência, que trabalhava no centro, era muito dificil. Ao trabalho, por dia, eram quatro viagens, mais um ida e vinda para o colégio, ou seja, seis viagens por dia. Como consequência eu era obrigado, muitas vezes, a desviar o percurso pela ponte grande, como era chamada nas antiga, ja que não existia essa segunda ponte. Dito isto, e com esperança de que os canoeiros se readaptem à outras maneira de ganhar seu sustento e de suas famílias, necessita, sim, e com urgência, de um elo de ligação fixo, entre uma margem à outra.
Saúde a todos os meus conterrâneos