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O que assusta os Bolsonaros e os militares são as milícias

Ao contrário do que aconteceu nas muitas outras crises envolvendo Bolsonaro & Filhos, desta vez a prisão de Fabrício Queiroz não mobilizou a junta militar dos generais Heleno, Braga e Ramos, que ocupam o Palácio do Planalto para proteger o presidente.

Desde a prisão, na quinta-feira, 18 de junho, os militares não deram um pio em defesa de Bolsonaro.

O que assusta os Bolsonaros neste caso não é o esquema de “rachadinhas” no gabinete de Flávio Bolsonaro, quando era deputado estadual no Rio e, Queiroz, o operador financeiro do gabinete, recolhia parte dos salários dos funcionários para pagar os boletos do chefe, como mostram as investigações.

Isso é o de menos nessa história. O que o Ministério Público e a Polícia Civil do Rio descobriram é a extensa rede de relações do gabinete do filho do presidente com as milícias cariocas, como consta do pedido de prisão de Queiroz.

Para um dos mais respeitados criminalistas do país, Antônio Carlos de Almeida Castro, o Kakay, “caso a investigação escancare a relação entre a família Bolsonaro, Queiroz e as milícias, as Forças Armadas abandonarão o governo”.

“Tenho a firme convicção de que o Exército brasileiro, que cumpre um papel constitucional (…) não vai aceitar a milícia coordenando o Brasil. O generalato brasileiro jamais admitirá ser tutelado por um grupo de milícia. Penso que quando começar a destampar essa panela vai aparecer muita coisa”.

Segundo o juiz Flávio Itabaiana, da 27ª Vara Criminal, que pediu a prisão de Queiroz, já há provas suficientes para aceitar uma peça acusatória, o que tornaria Flávio Bolsonaro réu pelos crimes de peculato, lavagem de dinheiro e organização criminosa, da qual seria o líder.

Bem que Queiroz tentou alertar os comparsas que as investigações estavam preparando “uma pica do tamanho de um cometa”, conforme áudio revelado pela Folha.

O cometa chegou.

“O mandado de prisão fala em obstrução de Justiça. Significa que existe uma investigação de organização criminosa. O crime de obstrução de Justiça é muito grave. Então nós temos que pensar que talvez tenha chegado aí um caso muito mais grave, que é a milícia. Talvez aquela pergunta que a gente fazia `onde está o Queiroz?´, consiga responder a outra pergunta que ainda resta: quem mandou matar Marielle? Talvez nós tenhamos chegado ao começo de um fio de novelo”, constata o criminalista Almeida Castro.

Até onde este novelo pode chegar?.

Por Ricardo Kotscho, Colunista do UOL

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