
Bolsonaro recua em depoimento ao STF e desmobiliza sua base mais radical
Ainda repercute fortemente na cena política nacional o depoimento prestado pelo ex-presidente Jair Bolsonaro ao ministro Alexandre de Moraes, no âmbito das investigações sobre a tentativa de golpe de Estado e os ataques à democracia brasileira. Diante dos ministros do Supremo Tribunal Federal, Bolsonaro abandonou o tom combativo que sustentava em palanques e redes sociais, admitiu não ter provas das acusações que fez contra o sistema eleitoral e ainda pediu desculpas.
A frase que mais ecoou do depoimento foi direta e desastrosa para sua base: “Não tenho provas de nada que disse.”
Com ela, o ex-presidente desmorona a narrativa que mobilizou milhares de apoiadores em atos antidemocráticos, inclusive os que acamparam em frente a quartéis e protagonizaram a invasão das sedes dos Três Poderes em 8 de janeiro de 2023.
Como se não bastasse, Bolsonaro tentou se descolar dos atos extremistas, chegando a se referir aos acampados como “idiotas”, jogando por terra qualquer tentativa de sustentação moral ou política junto ao núcleo mais radical do bolsonarismo.
Os comandantes militares, que também foram ouvidos, reforçaram o isolamento do ex-presidente ao deixarem claro que não viam nele liderança nem legitimidade para qualquer movimento golpista. Ou seja, Bolsonaro e seus aliados entraram na sala de interrogatório já sob suspeita — e saíram ainda mais enfraquecidos politicamente, com a imagem arranhada e o discurso desmontado.
O episódio representa um divisor de águas no bolsonarismo. Com o líder máximo dando um passo atrás e abandonando os seguidores mais fiéis à própria sorte, cresce o desgaste interno do movimento e se intensifica o debate sobre até onde vai a responsabilidade de Bolsonaro pelos atos que ameaçaram a democracia brasileira.
Se antes a estratégia era tensionar as instituições, agora parece ser salvar a própria pele — ainda que, para isso, tenha que renegar tudo e todos que o cercaram.
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